Ao tomarmos conhecimento da condenação de duas das nove pessoas detidas durante a manifestação de 24 de Novembro em frente à Assembleia da República, não podemos deixar de expressar a nossa solidariedade com as mesmas. Não conhecemos nenhuma das pessoas detidas e julgadas, e ignoramos os pormenores do processo que o Estado engendrou contra as mesmas, mas entendemos que isso pouco importa, pois entendemos que no lugar dessas pessoas poderia estar qualquer um de nós, que participámos nas mobilizações e manifestações da Greve Geral. E compreendemos como é dura a experiência de ser aprisionado, julgado e condenado por lutar contra a injustiça e a exploração.
Assistimos, desde o dia da Greve Geral, a uma campanha mediática, lançada pelas autoridades policiais com a cumplicidade da “comunicação social”, que pretendeu retratar todos os manifestantes que transgrediram os limites legais impostos à contestação, no dia 24 de Novembro, como “perigosos radicais anarquistas”. Pretendeu-se com isto justificar a acção da polícia – particularmente a conduta de um agente à paisana filmado a espancar um manifestante detido –, deslegitimar e isolar qualquer forma de protesto fora do quadro legal e preparar o caminho para a repressão.
Certamente, as autoridades entenderão que podem facilmente alargar a repressão a que já vêm submetendo os anti-autoritários, nos últimos anos, a uma camada mais vasta de revoltados, bastando para tal atribuir-lhes o rótulo de “anarquistas” e, para reforçar, porque não, “violentos”, “perigosos”, “extremistas”, “radicais”, “cadastrados”… A verdade é que, neste campo, o da repressão policial contra a resistência à violência institucionalizada do Estado, desde que vimos a polícia a dispersar ao tiro uma manifestação anarquista no último 1º de Maio em Setúbal, podemos dizer que já pouco nos surpreende.
Por outro lado, estamos agora a assistir a uma campanha de denúncia da actuação policial na manifestação, lançada a partir de alguns meios de esquerda, que, equivocadamente, tenta atribuir toda a responsabilidade pelo derrube das barreiras policiais e pelo lançamento de objectos contra a polícia, no dia da Greve Geral, a “agentes provocadores” que teriam incitado os manifestantes à “violência”.
Ora, se para nós foi óbvia a presença de agentes policiais infiltrados no seio da manifestação de 24 de Novembro, que se dedicaram a identificar, deter e espancar manifestantes, não podemos, no entanto, compartilhar a tese de que as dezenas de pessoas que participaram do derrube das barreiras policiais, e as centenas que as apoiaram, tenham sido incentivadas ou manipuladas por estes agentes. E afirmar que tal tenha sido assim, é fazer pouco do genuíno sentimento de revolta perante a prepotência dos ricos e poderosos, que levou tanta gente a arriscar o pêlo debaixo dos bastões da polícia.
Rejeitamos inteiramente o monopólio da violência pelas forças armadas e policiais do Estado, e, a propósito do tema da violência, questionamos: aumentar em 25% o preço dos transportes públicos, única forma que milhões de pessoas dispõem para se deslocarem, não é isto violência? Aumentar para o dobro as taxas dos serviços básicos de saúde, não é isto violência? Obrigar os trabalhadores do país europeu onde a desigualdade entre ricos e pobres é mais elevada a trabalhar mais por menos dinheiro, não é isto violência?
Poderíamos continuar por longas páginas a descrever aspectos da violência institucionalizada da classe dominante sobre nós, apenas exacerbada na sua última versão “troikista”, que ainda assim o retrato seria incompleto. Esta violência, garantida pela força das leis do Estado, é tão parte das nossas vidas que a chegamos a considerar “normal”, a começar na violência que constitui desperdiçar a única vida que temos a prostituir a nossa força de trabalho por um mísero salário, sem alternativa senão tolerar todas as agressões e humilhações por parte dos patrões.
Perante a imensa violência da classe dominante, do seu governo, dos seus tribunais e da sua polícia, perante a vaga de ataques contra as condições de vida de milhões de trabalhadores, reformados e desempregados, para salvar a sua economia, como poderemos considerar violento o derrube das barreiras que cercavam a Assembleia ou o lançamento de algumas pedras e garrafas contra os capacetes de polícias do Corpo de Intervenção, perfeitamente equipados com protecções pagas pelos nossos impostos?
Por tudo isto, reafirmamos a nossa solidariedade com todos os que abandonaram o conformismo dominante e, no dia da Greve Geral, dos piquetes às manifestações, encontraram formas de romper com a “paz social”. Só perturbando esta “paz dos cemitérios”, que só é útil a quem beneficia deste sistema, podemos sabotar a engrenagem da exploração capitalista.
Só a auto-organização dos explorados poderá fazer frente à arrogância dos poderosos! Unidos e auto-organizados, nós damos-lhes a crise!
12/12/2011
Associação Internacional dos Trabalhadores – Secção Portuguesa
Núcleo de Lisboa
Assistimos, desde o dia da Greve Geral, a uma campanha mediática, lançada pelas autoridades policiais com a cumplicidade da “comunicação social”, que pretendeu retratar todos os manifestantes que transgrediram os limites legais impostos à contestação, no dia 24 de Novembro, como “perigosos radicais anarquistas”. Pretendeu-se com isto justificar a acção da polícia – particularmente a conduta de um agente à paisana filmado a espancar um manifestante detido –, deslegitimar e isolar qualquer forma de protesto fora do quadro legal e preparar o caminho para a repressão.
Certamente, as autoridades entenderão que podem facilmente alargar a repressão a que já vêm submetendo os anti-autoritários, nos últimos anos, a uma camada mais vasta de revoltados, bastando para tal atribuir-lhes o rótulo de “anarquistas” e, para reforçar, porque não, “violentos”, “perigosos”, “extremistas”, “radicais”, “cadastrados”… A verdade é que, neste campo, o da repressão policial contra a resistência à violência institucionalizada do Estado, desde que vimos a polícia a dispersar ao tiro uma manifestação anarquista no último 1º de Maio em Setúbal, podemos dizer que já pouco nos surpreende.
Por outro lado, estamos agora a assistir a uma campanha de denúncia da actuação policial na manifestação, lançada a partir de alguns meios de esquerda, que, equivocadamente, tenta atribuir toda a responsabilidade pelo derrube das barreiras policiais e pelo lançamento de objectos contra a polícia, no dia da Greve Geral, a “agentes provocadores” que teriam incitado os manifestantes à “violência”.
Ora, se para nós foi óbvia a presença de agentes policiais infiltrados no seio da manifestação de 24 de Novembro, que se dedicaram a identificar, deter e espancar manifestantes, não podemos, no entanto, compartilhar a tese de que as dezenas de pessoas que participaram do derrube das barreiras policiais, e as centenas que as apoiaram, tenham sido incentivadas ou manipuladas por estes agentes. E afirmar que tal tenha sido assim, é fazer pouco do genuíno sentimento de revolta perante a prepotência dos ricos e poderosos, que levou tanta gente a arriscar o pêlo debaixo dos bastões da polícia.
Rejeitamos inteiramente o monopólio da violência pelas forças armadas e policiais do Estado, e, a propósito do tema da violência, questionamos: aumentar em 25% o preço dos transportes públicos, única forma que milhões de pessoas dispõem para se deslocarem, não é isto violência? Aumentar para o dobro as taxas dos serviços básicos de saúde, não é isto violência? Obrigar os trabalhadores do país europeu onde a desigualdade entre ricos e pobres é mais elevada a trabalhar mais por menos dinheiro, não é isto violência?
Poderíamos continuar por longas páginas a descrever aspectos da violência institucionalizada da classe dominante sobre nós, apenas exacerbada na sua última versão “troikista”, que ainda assim o retrato seria incompleto. Esta violência, garantida pela força das leis do Estado, é tão parte das nossas vidas que a chegamos a considerar “normal”, a começar na violência que constitui desperdiçar a única vida que temos a prostituir a nossa força de trabalho por um mísero salário, sem alternativa senão tolerar todas as agressões e humilhações por parte dos patrões.
Perante a imensa violência da classe dominante, do seu governo, dos seus tribunais e da sua polícia, perante a vaga de ataques contra as condições de vida de milhões de trabalhadores, reformados e desempregados, para salvar a sua economia, como poderemos considerar violento o derrube das barreiras que cercavam a Assembleia ou o lançamento de algumas pedras e garrafas contra os capacetes de polícias do Corpo de Intervenção, perfeitamente equipados com protecções pagas pelos nossos impostos?
Por tudo isto, reafirmamos a nossa solidariedade com todos os que abandonaram o conformismo dominante e, no dia da Greve Geral, dos piquetes às manifestações, encontraram formas de romper com a “paz social”. Só perturbando esta “paz dos cemitérios”, que só é útil a quem beneficia deste sistema, podemos sabotar a engrenagem da exploração capitalista.
Só a auto-organização dos explorados poderá fazer frente à arrogância dos poderosos! Unidos e auto-organizados, nós damos-lhes a crise!
12/12/2011
Associação Internacional dos Trabalhadores – Secção Portuguesa
Núcleo de Lisboa
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