3.13.2011

A precariedade é o estado normal das nossas vidas sob o domínio do Estado e do Capital

Todos sabemos que a precariedade laboral, o desemprego e os salários de miséria não são um problema só dos jovens licenciados, mas da grande maioria dos trabalhadores. Portanto, reivindicar trabalho estável e salários dignos apenas para quem é jovem e tem formação universitária não poderá passar de uma piada de mau-gosto.

Quando falamos de precariedade estamos a falar de grande maioria da população: trabalhadores contratados ou não, desempregados, reformados, jovens à procura de um modo de vida e sem-abrigo, sejam eles portugueses ou imigrantes.

A percentagem de trabalhadores precarizados pode ser estimada entre 40 e 50% da população total, se contarmos com os trabalhadores “contratados” através de empresas de trabalho temporário, os desempregados, os sub-empregados (trabalho parcial), os que estão sujeitos a formas encapotadas de desemprego (“empregados” em acções de formação, com reformas antecipadas, vítimas de rescisões por “acordo mútuo”, etc.) e ainda os chamados trabalhadores ilegais. Segundo dados oficiais, mais de um terço dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal recebiam em 2010 menos de 600 euros mensais, não chegando o salário médio aos 800 euros.

Actualmente, com o pretexto da crise, tem lugar um aceleramento brutal do processo de concentração de riqueza nas mãos de uma elite privilegiada a nível mundial. Em Portugal, tal como nos restantes países submetidos a “medidas de austeridade”, este processo torna-se óbvio através da observação dos lucros apresentados pelas grandes empresas e, em particular, pelos bancos. Os três maiores bancos privados nacionais (BCP, BES e BPI) tiveram em 2010, em conjunto, os maiores lucros anuais desde 2008, 996,9 milhões de euros, valor só superado pelo lucro recorde obtido pelos mesmos bancos no auge da especulação financeira em 2007, 1525 milhões de euros.

É neste contexto que as soluções apresentadas para a “crise”, pelos incontestáveis gestores da nossa miséria, passam por reduções e congelamentos salariais, cortes nos serviços e subsídios sociais, aumento dos impostos pagos pelos mais pobres, aumento dos preços dos medicamentos, redução dos direitos dos trabalhadores, facilitação dos despedimentos, etc.

Paralelamente, observamos que nos gastos em repressão não há cortes, só aumentos. Para manter um sistema opressivo é necessário mobilizar cada vez mais recursos repressivos: mais polícia, mais segurança privada, mais video-vigilância, mais exército, mais prisões, mais controlo de fronteiras.

É hoje impossível contestar que vivemos uma situação de guerra social. Esta é uma guerra que dura desde que há exploração e opressão, mas há muito que o nosso lado do conflito, o dos explorados e oprimidos, está a perder, sem opor qualquer resistência digna desse nome às ofensivas do Poder.

As alternativas, à esquerda e à direita, revelam-se, como sempre, falaciosas e irrealistas. Qualquer cedência por parte do Estado e do Capital só será conquistada à custa de uma guerra sem quartel que ameace destruir os privilégios dos poderosos. E só nessa luta, podemos criar as bases para uma realidade sem exploradores nem opressores.

É essencial que entendamos que a nossa luta é a luta de todos os que sofrem a exploração e a opressão, e que, neste momento, há pessoas como nós a lutar no mundo inteiro. As imagens que nos chegam de lutas em vários pontos do mundo são só uma parte desta realidade. É importante que não nos deixemos cair em nacionalismos que, a pretexto do “interesse nacional”, pretendem conciliar o inconciliável: quem explora e quem é explorado, quem pisa e quem é pisado.

É também essencial que não deleguemos a nossa luta em ninguém. Não existem salvadores, senão nós próprios. Não existe nenhum partido que nos represente. Não há nenhuma cúpula de nenhum sindicato burocrático ou de qualquer movimento hierarquizado que vá além da encenação para defender os nossos interesses.

Toda a luta deve ser auto-organizada. Com aqueles que sofrem os mesmos problemas que nós, podemos criar grupos, assembleias, movimentos, sindicatos auto-organizados e lutar directamente, sem recurso a intermediários, tendo ao nosso lado apenas iguais, não renunciando a métodos, hoje malditos mas que já provaram a sua eficácia, como o bloqueio, a sabotagem, a greve ‘selvagem’ e, acima de tudo, a solidariedade e o apoio-mútuo entre explorados e oprimidos em luta.

Unidos e auto-organizados, nós damos-lhes a crise!

11/03/2011

Associação Internacional dos Trabalhadores – Secção Portuguesa
Núcleo de Lisboa

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